A chave do tamanho
Beto Viana
Outubro a Novembro de 2015
A consciência da oposição micro/macro levou Beto Viana a intitular sua primeira exposição individual de “A chave do tamanho”. Não é exatamente uma homenagem a Monteiro Lobato, é mais a revelação do mundo privado do artista que transforma matéria em signo, que vê o microscópio e o telescópio e também vê através deles o pequeno e o grande, como se fizesse parte do cotidiano a oxidação da tinta a óleo, as reações dos sais de prata na fotografia, a incompatibilidade da água com o óleo. Em tudo está um jogo de escalas, uma questão de tamanhos que não se revela, permanece oculto como um segredo do artista.
Beto Viana já possui uma trajetória de aprendizado e prática que extrapola o Recife, tendo transitado por Londres, Madri, Rio de Janeiro e São Paulo. De quatorze aos vinte anos ele foi orientado por Siron Franco, inclusive participando ativamente em Londres de uma série de pinturas e colagens e atuando no centro de uma performance que Siron mostrou naquela cidade, intitulada “doença da Vaca Louca”.
Frequentou as sessões abertas de desenho de modelo vivo que o Centro Cultural São Paulo oferece. Teve como orientadora a artista Ely Bueno cuja orientação didática se baseava na Bauhaus. Beto também frequentou seu ateliê onde teve contato com a obra de Amélia Toledo, Mira Schendel, Mário Schenberg e Ligia Clark.
Na mesma época conheceu Mário Gruber com quem passou um ano estudando e trabalhando em seu ateliê. Com Mário Gruber nasceu o amor pela gravura e este convívio lhe rendeu o aprimoramento na pintura que faz até hoje. A gravura permaneceu no seu cotidiano artístico, atualmente ele desenvolve a litografia sob a orientação de Hélio Soares na Oficina Guaianases de Gravura do Centro de Artes da UFPE.
Beto foi participar de um simpósio sobre técnica de pintura no Museu do Prado, Madri, com intenção de ficar dois meses, ficou um ano. Foi quando frequentou a Escola de Belas Artes da Universidade Complutense, estudando desenho, anatomia, escultura e gravura Na oportunidade conheceu artistas espanhóis de renome como Fernando Higueras, Ginés Liebana e Antônio Lopez Garcia que o convidou para participar dos dois atelieres que ele orientava, em um deles Beto ganhou uma bolsa, e teve um quadro selecionado para compor o acervo do Palácio de Los Serranos da Caja de Avila.
De volta ao Brasil Beto participou de duas exposições coletivas, suas primeiras: uma no Memorial da América Latina e outra no Palácio dos Bandeirantes. Em 2007 mudou-se para o Rio de Janeiro onde conheceu José Celso Martinez Correia na produção do espetáculo “Os Sertões” dirigido por ele. Através dele conheceu Hélio Eichbauer, autor do cenário de “O Rei da Vela”, também dirigido por Zé Celso, obra fundamental de Oswald de Andrade, marco da dramaturgia brasileira e marco zero do tropicalismo no teatro.
Durante os seis anos que Beto viveu no Rio cinco foram frequentando as aulas de Hélio: no começo no Teatro Poeira, depois no Tom Jobim do Jardim Botânico e finalmente no Parque Lage. Ele diz: “Hélio abriu minha cabeça para o mundo, o mundo como uma leitura do mundo. Um dos homens mais eruditos que conheci”.
Os meios básicos para a produção artística se intercalam na sua produção atual, como o desenho, a pintura, e gravura e a fotografia. Em todos eles teve bons mestres como Siron, Mário Gruber, Antonio Lopez Garcia e Hélio Eichbauer. Quanto à fotografia ela tem sido base para as litogravuras recentes.
Esta exposição mostra o resultado da curiosidade, do interesse profundo de um artista pesquisador de mente aguda, perscrutadora que pinta com uma palheta de cores semitonada em busca do momento exato da escorregadela do pincel na tela. Sua obra é carregada de memória e de citações da pequena-grande história de quem decidiu ser pintor ainda adolescente – atitude de quem também é poeta. Não é exatamente um contestador, como acontece com a maioria dos artistas de sua geração, é um cronista dos sentimentos que entram pelos olhos, passa pelo coração e se manifestam palas mãos.
Curadoria de Raul Córdula
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