"A SEGUIR"
Uma mulher e uma menina caminham em direção a um destino indefinido, uma mancha cinza em formação, na pintura "Amor de Mãe É Sagrado", do artista Jeff Alan. O quadro transmite os sentimentos reunidos nas obras da exposição coletiva "A Seguir", uma reunião de imagens de diferentes épocas, criadas por dez artistas, que procura estimular pensamentos sobre o momento de indefinição existencial atualmente vivido pelos seres humanos em todo o mundo e especialmente no Brasil. Afinal, para onde vamos?
A questão da proteção maternal, que se evidenciou na pandemia, está fortemente presente na pintura de Jeff, assim como na gravura apresentada por Valeria Rey Soto. A obra da artista espanhola é parte de uma série inspirada nos significados pagãos da Missa do Galo, ritual que simboliza o surgimento de uma luz após a noite. A mãe e o filho desenhados no quadro parecem estar diante de algo misterioso e espantoso, ao mesmo tempo em que olham para quem os observa.
O gesto de recorrer a alegorias sagradas em períodos difíceis manifesta-se ainda na pintura de Alexandre Pons, que utiliza a grafia da pixação urbana contemporânea para evocar a Tábua de Esmeraldas e referências a Thoth, Hermes e Mercúrio, que são os deuses mensageiros das antigas culturas do Egito, da Grécia e de Roma. Já o artista olindense José Barbosa elabora uma espécie de mitologia fictícia ao inventar enigmáticas criaturas que podem ser interpretadas como demônios do Bem e do Mal.
"Bicho de Sete Cabeças", expressão que se refere a coisas difíceis de entender e explicar, é o título da pintura de Antônio Mendes, uma composição situada no limite entre a figuratividade e a abstração. Essa dúvida sobre a natureza de um fenômeno serviria como mais uma ilustração para as sensações provocadas por um novo vírus desconhecido que sofre novas mutações.
"Luta da Consciência" é o nome da pintura de Rinaldo, que recorre a uma figura monstruosa (uma cobra de duas cabeças) para expressar as posturas diante da vida em momentos de responsabilidade. Em um desenho de Renato Valle, um homem veste uma máscara que não só tapa o nariz e a boca, como bloqueia sua visão.
A vida pulsa biologicamente na série de cerâmicas de Christina Machado. Com uma nova técnica, ela cria uma sequência de figuras abstratas baseadas em representações gráficas das intensidades dos batimentos cardíacos.
Outro desenho de Valle, que recorta um trecho da Rua da Moeda (onde funciona a Arte Plural), constata o recente e crescente aumento de moradores de rua em grandes cidades, provocado pela ausência de políticas sociais públicas em estados de emergência. Maurício Arraes compartilha a mesma preocupação em uma pintura que mostra um personagem à procura de alimento em meio ao lixo.
Arraes participa ainda com uma tela que retrata um artista de rua, um personagem que, de forma precária, utiliza uma técnica de pintura repetitiva, caracterizada pela falta de originalidade criativa. O quadro expressa um olhar crítico e poético sobre uma atividade informal que poderia oferecer possíveis horizontes de esperança por meio pequenas de paisagens retangulares pintadas à mão, mas que opera de forma precarizada em vários aspectos sociais e artísticos.
Mulheres do projeto Cozinhas Afetivas são as personagens que o artista Roberto Ploeg escolheu para trazer à galeria na exposição. Com máscaras nos rostos, elas estão reunidas em torno da solidariedade, na fila das quentinhas (ou marmitas), em uma solução cooperativa encontrada para enfrentar a atual crise alimentar provocada pela alta inflação nos preços da comida e do gás. Sua pintura é uma constatação crítica sobre a busca por alternativas comunitárias em uma situação grave.
O título da coletiva "A Seguir" sinaliza para um futuro próximo, para o tempo que virá, como um gesto simbólico sobre o seguimento da vida. Novas obras dos 10 artistas, criadas especialmente para este projeto da Arte Plural, serão acrescentadas à galeria ao longo das semanas da exposição. É como uma representação de algo que acontece no presente, mas se confunde com o futuro a curto e a longo prazo. Sigamos.
Julio Cavani, curador convidado
A questão da proteção maternal, que se evidenciou na pandemia, está fortemente presente na pintura de Jeff, assim como na gravura apresentada por Valeria Rey Soto. A obra da artista espanhola é parte de uma série inspirada nos significados pagãos da Missa do Galo, ritual que simboliza o surgimento de uma luz após a noite. A mãe e o filho desenhados no quadro parecem estar diante de algo misterioso e espantoso, ao mesmo tempo em que olham para quem os observa.
O gesto de recorrer a alegorias sagradas em períodos difíceis manifesta-se ainda na pintura de Alexandre Pons, que utiliza a grafia da pixação urbana contemporânea para evocar a Tábua de Esmeraldas e referências a Thoth, Hermes e Mercúrio, que são os deuses mensageiros das antigas culturas do Egito, da Grécia e de Roma. Já o artista olindense José Barbosa elabora uma espécie de mitologia fictícia ao inventar enigmáticas criaturas que podem ser interpretadas como demônios do Bem e do Mal.
"Bicho de Sete Cabeças", expressão que se refere a coisas difíceis de entender e explicar, é o título da pintura de Antônio Mendes, uma composição situada no limite entre a figuratividade e a abstração. Essa dúvida sobre a natureza de um fenômeno serviria como mais uma ilustração para as sensações provocadas por um novo vírus desconhecido que sofre novas mutações.
"Luta da Consciência" é o nome da pintura de Rinaldo, que recorre a uma figura monstruosa (uma cobra de duas cabeças) para expressar as posturas diante da vida em momentos de responsabilidade. Em um desenho de Renato Valle, um homem veste uma máscara que não só tapa o nariz e a boca, como bloqueia sua visão.
A vida pulsa biologicamente na série de cerâmicas de Christina Machado. Com uma nova técnica, ela cria uma sequência de figuras abstratas baseadas em representações gráficas das intensidades dos batimentos cardíacos.
Outro desenho de Valle, que recorta um trecho da Rua da Moeda (onde funciona a Arte Plural), constata o recente e crescente aumento de moradores de rua em grandes cidades, provocado pela ausência de políticas sociais públicas em estados de emergência. Maurício Arraes compartilha a mesma preocupação em uma pintura que mostra um personagem à procura de alimento em meio ao lixo.
Arraes participa ainda com uma tela que retrata um artista de rua, um personagem que, de forma precária, utiliza uma técnica de pintura repetitiva, caracterizada pela falta de originalidade criativa. O quadro expressa um olhar crítico e poético sobre uma atividade informal que poderia oferecer possíveis horizontes de esperança por meio pequenas de paisagens retangulares pintadas à mão, mas que opera de forma precarizada em vários aspectos sociais e artísticos.
Mulheres do projeto Cozinhas Afetivas são as personagens que o artista Roberto Ploeg escolheu para trazer à galeria na exposição. Com máscaras nos rostos, elas estão reunidas em torno da solidariedade, na fila das quentinhas (ou marmitas), em uma solução cooperativa encontrada para enfrentar a atual crise alimentar provocada pela alta inflação nos preços da comida e do gás. Sua pintura é uma constatação crítica sobre a busca por alternativas comunitárias em uma situação grave.
O título da coletiva "A Seguir" sinaliza para um futuro próximo, para o tempo que virá, como um gesto simbólico sobre o seguimento da vida. Novas obras dos 10 artistas, criadas especialmente para este projeto da Arte Plural, serão acrescentadas à galeria ao longo das semanas da exposição. É como uma representação de algo que acontece no presente, mas se confunde com o futuro a curto e a longo prazo. Sigamos.
Julio Cavani, curador convidado