O corpo e suas escrituras
Roberto Lúcio
Setembro a Outubro de 2016
É o corpo em vertigem que se apresenta nas fotografias convulsivas de Roberto Lúcio. O corpo que se deleita e transgride, que se esparrama por ser inesgotável e insaciável, que também se contrai e se contém num efeito de linguagem ou sob pequenos objetos a ele atrelados por uma fina película: gesto consagrado ao impossível, ato que aponta para a possibilidade de uma experiência com a vida a se realizar fora do campo das injunções morais, mas na intensidade própria à convulsão e à vertigem, enxertando, na carne do outro, aquilo que há de mais heterogêneo, a mais excêntrica das paixões. A obra de Roberto Lúcio é voltada ao impossível, à maneira de Georges Bataille, escritor francês que construiu um pensamento vigorosamente oposto às formas convencionais da existência. Na narrativa de Roberto Lúcio encontramos a mesma potência dos escritos battalianos, que invocam a subversão das formas de vida ditadas pela convenção. Para Bataille, somente por meio de gestos extremos o homem pode ser arrancado do regime da racionalidade, unicamente pela violência a humanidade pode romper com os imperativos adaptativos que regulam a vida. Roberto Lúcio caminha pelo território do feminino e pela indefinição engendrada no corpo de mulher, exaltando a autoridade da carne e das pulsões, demonstrando a artificialidade da razão em relação à força imperativa do deslimite. (...)